quarta-feira, 30 de novembro de 2016

muito mais você







Então você fala de quem não tem olhos para te ver
gente surda ao som das suas falas
e analfabeta com as suas escritas
tenha paciência com certas amizades
é que as vezes a luz da gente ofusca

fetiche



me apaixonei por Ana desde cedo
assim que revelei seu segredo
não foi a boca, não foram os seios
nem os pés, nem ancas
nem foi vê-la sem canga
nem também ter ao vento
seu baile dos longos cabelos
não foi vulva, nem nádegas
nem suas pisadas na areia

ôh Aninha, descobri meu paraíso
na extensão do teu umbigo
tão  redondo, raso e silencioso
a conta da ponta de minha língua
que se rente a minha orelha
traz o barulho do mar
igual as ondas de amores
além de tudo limpinho e perfumado
portal para minha alegria

coisa que ninguém desconfia 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

flor do sentimento

Tenho vontade constante de distribuir coisas assim. Colha!
margarida na amarga vida feita para corações 
Mas quando for checar o sentimento que te acolhe
não despetale a flor. Há de doer nela se lhe arrancam do pé
bem me quer, mal me quer
sem solavanco, sem aflições
uma, a uma, cada pétala
deixai que repousem no tempo
a perecer
feito eu, como você
melhor acontecer menos breve
mais vida sem sofrer
sem perder nem dedos, nem orelhas
integra imagem a desaparecer
apenas sensível a sutileza da brisa
que destrói sem que inferniza
como nos destrói outrem
só bem querer, só todo o bem

Nada pra mim importa se você me veio com defeitos


Valternith de sobrenome aristocrático
e de outras firulas mais
vá em paz com suas rosas
e suas outras flores de amores
dispenso também suas palavras melosas
seu carinho suave
seu excesso de perfume
e o seu pudor em demasia
e sua cara de babaca todo dia
você se tornou o meu pacote de cansaço
falta firmeza na pegada
nunca foi do seu jeito que sonhei ser amada
quero homem que me traga frango assado
que esfregue o meu assoalho
que me descasque o alho
que corte com destreza meio quilo de azeitonas
que perceba a lida com a louça
e desencane de eu ser eternamente sua moça
sua menininha de brinquedo e mamãezinha
não me chame de princesa ou de rainha
nem de estrela, nem de lua, nem fofinha
me dê saquê e não água pra beber
de que me serve gente pouco funcional
que não estende a roupa no varal
que não tira do varal, que nem dobra, nem guarda no armário
por mim não precisamos mais nos ver
procura alguma tonta pra você

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

intimismos de brinquedo



poetas demais
poemas nem tanto
poesia de menos
letais  facadas na literatura
amontoados  de  frases  e sentidos pobres
vaidades  sem  patrulhamento
excessos de glórias e lamentos  tolos
a pieguice de mãos dadas com a mesmice
sem cadência, sem ritmo, sem relevância
sem acuidade com a língua, sem linguagem
sem crases ou com excesso das mesmas
e um monte de leitores desavisados
perdidos em romantismos requentados, infantis

tudo é febril
tudo é sutil feito o elefante que virou esquina  afora
tudo coladinho sobre  certas imagens cafonas
cotidiano imbecil e endossado pela falta de leitura
dos mestres daquelas liras agora tão perdidas
que saudade tenho
de Pessoa
de Bandeira
de Drummond
de Leminski
de todos que como Espanca
não espancavam no ofício de criar
Cecília Meireles de obra prima

a poesia virou oficina da orfandade
do genuíno, do importante, rompeu com o brilho
virou troca de gentilezas entre amigos virtuais
e, ainda mais, sem sorte se transformou em esquecimento
no transito dos ignorantes
que excedem em reticências descabidas
ou em erotismos meros desses Rógeres da vida
ele me levou ao céu quando tocou seus lábios em minha boca
meu sangue ferveu ao toque da tua mão
ela é serena como a luz do luar
“quem dera ser um peixe 
para em teu íntimo aquário mergulhar”
estas entre outras loucuras das nossas cabeças

versos intermináveis
laudas incontáveis sem repertório consistente
sem conteúdo, sem materialidade e sem presença de espírito
sem verossímil, sem fictício convincente
sem decência e excesso de charlatanismo
com o endosso dos estúpidos e estapafúrdios
puxando o saco, curtindo
restam-nos apenas os repentes genuínos
porque a demais são decadências
salvo uma exceção aqui e outra ali
o restante faz vontade de dormir
antes de se poder ler até o fim
pobre de mim, pobre de você

chove no molhado
quem tenta a reinvenção da roda
que tenta mas não repete à moda dos virtuosos
e se ilude sem se perceber aquém da mediocridade
inviável explicar a poesia e o poeta confinados na emoção
punheta, falta de razão e comiseração
não fosse a poesia ser possível por pura imposição
nós não seríamos
nós não teríamos
meros esboços
débeis rascunhos
frente a inutilidade
de lápis e papeis às nossas mãos.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

gritadeiro




corpos, prazeres   e  sentimentos  não andam
necessariamente    de mãos dadas. você pode 
se perder ou se esquecer entregue à espera da 
simetria  destas  coisas e por isso eu te repito
gozar  é  fundamentalmente  preciso.  o resto
são        meras     convenções.     abjetal     e 
objetivamente por menor ou maior que seja a 
vontade  ou  o  sentimento,  o prazer  tem um
quê  de  água   quando ardente corrente no rio
libidinoso  da  gente.  não pare siga em frente.