sexta-feira, 25 de novembro de 2016

intimismos de brinquedo



poetas demais
poemas nem tanto
poesia de menos
letais  facadas na literatura
amontoados  de  frases  e sentidos pobres
vaidades  sem  patrulhamento
excessos de glórias e lamentos  tolos
a pieguice de mãos dadas com a mesmice
sem cadência, sem ritmo, sem relevância
sem acuidade com a língua, sem linguagem
sem crases ou com excesso das mesmas
e um monte de leitores desavisados
perdidos em romantismos requentados, infantis

tudo é febril
tudo é sutil feito o elefante que virou esquina  afora
tudo coladinho sobre  certas imagens cafonas
cotidiano imbecil e endossado pela falta de leitura
dos mestres daquelas liras agora tão perdidas
que saudade tenho
de Pessoa
de Bandeira
de Drummond
de Leminski
de todos que como Espanca
não espancavam no ofício de criar
Cecília Meireles de obra prima

a poesia virou oficina da orfandade
do genuíno, do importante, rompeu com o brilho
virou troca de gentilezas entre amigos virtuais
e, ainda mais, sem sorte se transformou em esquecimento
no transito dos ignorantes
que excedem em reticências descabidas
ou em erotismos meros desses Rógeres da vida
ele me levou ao céu quando tocou seus lábios em minha boca
meu sangue ferveu ao toque da tua mão
ela é serena como a luz do luar
“quem dera ser um peixe 
para em teu íntimo aquário mergulhar”
estas entre outras loucuras das nossas cabeças

versos intermináveis
laudas incontáveis sem repertório consistente
sem conteúdo, sem materialidade e sem presença de espírito
sem verossímil, sem fictício convincente
sem decência e excesso de charlatanismo
com o endosso dos estúpidos e estapafúrdios
puxando o saco, curtindo
restam-nos apenas os repentes genuínos
porque a demais são decadências
salvo uma exceção aqui e outra ali
o restante faz vontade de dormir
antes de se poder ler até o fim
pobre de mim, pobre de você

chove no molhado
quem tenta a reinvenção da roda
que tenta mas não repete à moda dos virtuosos
e se ilude sem se perceber aquém da mediocridade
inviável explicar a poesia e o poeta confinados na emoção
punheta, falta de razão e comiseração
não fosse a poesia ser possível por pura imposição
nós não seríamos
nós não teríamos
meros esboços
débeis rascunhos
frente a inutilidade
de lápis e papeis às nossas mãos.

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