poetas demais
poemas nem tanto
poesia de menos
letais facadas na literatura
amontoados de
frases e sentidos pobres
vaidades sem
patrulhamento
excessos
de glórias e lamentos tolos
a
pieguice de mãos dadas com a mesmice
sem
cadência, sem ritmo, sem relevância
sem
acuidade com a língua, sem linguagem
sem
crases ou com excesso das mesmas
e
um monte de leitores desavisados
perdidos
em romantismos requentados, infantis
tudo
é febril
tudo
é sutil feito o elefante que virou esquina
afora
tudo
coladinho sobre certas imagens cafonas
cotidiano
imbecil e endossado pela falta de leitura
dos
mestres daquelas liras agora tão perdidas
que
saudade tenho
de
Pessoa
de
Bandeira
de
Drummond
de
Leminski
de
todos que como Espanca
não
espancavam no ofício de criar
Cecília
Meireles de obra prima
a
poesia virou oficina da orfandade
do
genuíno, do importante, rompeu com o brilho
virou
troca de gentilezas entre amigos virtuais
e,
ainda mais, sem sorte se transformou em esquecimento
no
transito dos ignorantes
que
excedem em reticências descabidas
ou
em erotismos meros desses Rógeres da vida
ele
me levou ao céu quando tocou seus lábios em minha boca
meu
sangue ferveu ao toque da tua mão
ela
é serena como a luz do luar
“quem
dera ser um peixe
para
em teu íntimo aquário mergulhar”
estas
entre outras loucuras das nossas cabeças
versos
intermináveis
laudas
incontáveis sem repertório consistente
sem
conteúdo, sem materialidade e sem presença de espírito
sem
verossímil, sem fictício convincente
sem
decência e excesso de charlatanismo
com
o endosso dos estúpidos e estapafúrdios
puxando
o saco, curtindo
restam-nos
apenas os repentes genuínos
porque
a demais são decadências
salvo
uma exceção aqui e outra ali
o
restante faz vontade de dormir
antes
de se poder ler até o fim
pobre
de mim, pobre de você
chove
no molhado
quem
tenta a reinvenção da roda
que
tenta mas não repete à moda dos virtuosos
e
se ilude sem se perceber aquém da mediocridade
inviável
explicar a poesia e o poeta confinados na emoção
punheta,
falta de razão e comiseração
não
fosse a poesia ser possível por pura imposição
nós
não seríamos
nós
não teríamos
meros
esboços
débeis
rascunhos
frente
a inutilidade
de
lápis e papeis às nossas mãos.
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