quinta-feira, 31 de julho de 2014

Marco zero

Atenciosamente respondo com dizeres quando é possível
Doutras feitas, aceno, pisco, solto um beijo via vento
Ultimamente ando o tempo todo muito desatento
Despercebo teu rosto e você me acha insensível 

Desastrosamente a vida se torna invisível
Contas demais para o meu cálculo lento
Relatos magros suprassumo do lamento
Cabisbaixo por ser tudo inacessível 

Compreenda o dilema do sofrível
Inalcançado vulto em meu relento
Demasiado turvo e inatingível

Encarecidamente me torne discernível
Ofereça seu regalo ao meu intento
Decompondo o meu estado perecível  


quarta-feira, 30 de julho de 2014

OFERENDA





terça-feira, 29 de julho de 2014

feel forever

Qual cheiro impregnou suas narinas
para sempre
qual odor já não existe no ar
mas mesmo assim você sente
quais aromas lhe são assim tão persistentes
te faz reviver nos termos de eternos flash backs

Conforme a situação bons ou maus cheiros vêm à tona
pode ser urina ou gasolina
cheiro de biscoito frito do jeito que mamãe fazia
cheiro de álcool na prova mimeografada
cheiro de terra misturada com estrume de curral
cheiro de corpo, de pessoa amada misturado com gim tônica

já se impregnou com cheiro de café torrado
já se impregnou com cheiro de "toicim fritado"
já esteve no mato sentindo o cheiro de mercado
e aquele "quiquiu" alheio azedo da poltrona do lado
e aquele cheiro insuportável de colônia contouré
misturado com desodorante de cashmere bouquet

Tabu fascina?
quais outro perfume te alucina
cheiro de suor trabalhado na estiva
na construção civil dos homens servis
quantos você não se esquece
te enlouquece ou te aborrece

A vela acaba e cheiro permanece eternamente
A rosa seca despetalada a essência permanece inalterada
amores, velórios, casamentos, aniversários
e os cheiros dos guardados
naftalina, travesseiros, traições
creme condicionador neutrox com banheiro inundado

um dos que mais me toca tem seu hálito dormido pós seu aguardente
um desafio inoportuno e adorável para o beijo da gente
algodão doce, carrinho de pipoca, pólvora de bomba, traque e "fuguete"
fogueira de São João, de santo Antônio casamenteiro
daquele rapaz que cheira mais e eu vi primeiro
cheiro de pequi do norte mineiro

cheiro de quem fica, de quem vai embora
de lixo, de maconha, de emulsão de scort
cheiro de guaraná brotinho com tampa furada com prego
cheiro do que não dei e cheiro de tudo que entrego
da primeira vez e da ultima foda
cheiro é coisa que não cai de moda.



eu gosto é de você

domingo, 27 de julho de 2014

O imperativo do poema

A pagina preferiu ficar branca
como se quisesse frustrar minha imaginação
ou foi minha agonia que desviou o meu olhar.
Como se não bastasse o malfazejo,
toda a tinta da caneta sisma em ficar turva:
eu sem pauta, eu sem tinta, em estado de decomposição
completa das ideias,
eclipse total do coração

Tão ingênuo fui naquela hora
como é decidido em mim a qualidade de tudo
tolice querer ser dono da poesia
burrice esquecer que a louca se faz de feita sobre tudo
vem quando dá na teia
da forma que quer ser vista
nem sempre quer ser escrita
nem precisa ser lida
nem mostrada
nem sentida.

BATOM CARMIM


sábado, 26 de julho de 2014

Nossa Santa Aparecida da Padaria

Ele chegou muito sem propósito
No ato do cumprimento
notou que eu trazia as unhas
exuberantemente grandes e decoradas
mandei vê
taquei logo um arco-ires customizado de bolinhas
um furta-cor bem cafoninha
que não se deixa desperceber

Ele me disse
____ gente, mas você gosta de aparecer em?
Sacana esse filho da puta
A padaria acochada de gente
eu arrochada no caixa
e vem esse moço desinformado
do perigo da sua sogresa

Eu respondi
____ eu sou a própria aparição
como o seu filho já me disse
a minha cara preenche tudo
É da minha natureza
minha santa exposição
preciso de unha pr'aparecer  não

Bacanal


quinta-feira, 24 de julho de 2014

ACOSTAMENTO MULTIUSO

Naquele chão de chuva                                                           Coração de Jesus ficou pra trás    
aquelas horas gostosas                               Deus do céu o que será dos nossos compromissos
de curvas e conversas perigosas                                        Quem diria que chegaríamos nisso
provei teus lábios  e me esqueci das minhas trancas                                     E agora mulher?
quase chegamos em Pirapora                                                           que nos passamos a limpo
depois de perdermos os juízos                                                    que nada sabemos do destino
esquecemos os sentidos                                                          você se virou em minha pequena
trancafiados naquela  boleia                                                 e entre o medo e tua pele morena
trocados por sexo no acostamento                                                        eu me senti seu menino

Por onde passeia o seu ponto G?


quarta-feira, 23 de julho de 2014

O amor é o elo





Minha maninha querida
lhe sou o amigo de sempre
que te soube ouvir
que te sabe amar
que confio em te
que me sabe dar
seu bem, seu riso, sua paciência
quem diria
quem te viu naqueles dias
tão serelepe, tão dura
tão menina, tão traquina
te vê agora senhora
tranquila, madrugadeira
light do juízo
sem poço e precipício
sopra vento na cara
dessa delícia e candura
meu aceno de felicidade
por toda a sua eternidade

Piso reciclado


  Piso
Santo
 Consumindo
 Ando
Reciclando

Esta é uma obra de realidade, qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência


sexta-feira, 18 de julho de 2014

estatelos





seu pé me fez estatelar 
me desarrumei no chão inteiro e duro 
desgraceira
lasqueira
na sensação um desarranjo de víscera
disfunção intestinal
escoriações e verdugos

pior que isso
só o coro dos contentes
virei gargalhada na boca do mundo
tudo em mim tá solto
você pode
e não acode
Yeti, Pé Grande

"tire o seu sorriso do caminho"
deixa eu me levantar
a dor passou
tire o pezão da frente
tente um homem
diferente
dá o braço pra gente.
 



quarta-feira, 16 de julho de 2014

A lua é doida

A minha lua andou grande antes de ontem
eu ouvi de umas pessoas distantes da minha janela
meio alvoroço
um jeito mais moço
como se na cidade
a lua fosse objeto de observação

Quando São Jorge desembesta no céu naquele tamanhão.
Uma amiga minha anda a ficar  louca
Parece piração
um jeito de desbunde
como se no desfrute
tudo fosse somente excesso de iluminação

Por que a lua tem que estar tão grande?
a gente chega a cheirar queijo!
caso perdido
um jeito mais divertido
como se no rodopio
somente fosse um lampejo de beijo



 

São João da Ponte, eternamente




Meu coração de menino
remonta Nozim alegre
regando plantas 
no meio da vida da praça

Sua canção
toda sua maior graça

"Cabaça d´água, oh
tição de fogo
o tubi da veia
tá pegando fogo"

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Inquietação da Vontade



No que estou pensando?
Aqui faz frio e chuva.
O resto eu deixo por conta da minha imaginação.
Ainda mais que sonhei com um Cristo esta noite
Ele me apareceu nu, melhor que sem túnica, e suado
Eu acordei esbaforida
tonta,  inebriada, um calor danado
Por pouco era pesadelo,
fosse o pecado encarnado

Você, que nunca viveu esta íntima contrição.
Tem coragem de dar asas a louca e
dizer por ai o que comete em sonhos e com quem?
O céu nublado me convida pra tirar a roupa.
Eu fico pensando em ser apedrejada com as pérolas da tua boca
Me perco em aleivosias
como se corrompem todas as mulheres
Em virgens santas
De prazeres breves.

O que eu continuo pensando?
Em transformar a minha cama em um altar
Para eu te rezar se eu te sonhar
no meu perder por te encontrar

quarta-feira, 9 de julho de 2014

UNIVERSO HOMEM



Quem se alucina,
Brinca com fogo e dorme no molhado.
Gozado,
Sonhei com você e acordei melado.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Elementar






Se Deus  nos fez homens, a sua semelhança,
Esta em mim seu marco de crueldade,
Esta em mim a cristalização da sua bondade,
Maniqueísmo e mero transcurso são nossas tonalidades.

Eu sou filho de Deus pai todo poderoso,
Estado passageiro da minha condição de terra,
Aqui, do mesmo modo que se fosse na China, na Cochinchina,
Tão mono, quanto politeísta,  conforme a condição do tempo.

Eu encarno Deus no estilo que  lhe conceberam os homens.
Seus filhos, assim os homens se situam na produção da divindade.
Eu sou produto da nossa própria criação compenetrada na crença,
Contra a minha própria perversidade, só me sobra então ter esperança.

Quão dolorosa é a lacuna branca do que não conheço.
Encantada então, lhe saracoteia  minha intensa imaginação fértil
É preciso estabelecer um marco para o meu esforço
Meu Deus do céu! Eu sou a cara desse moço!

domingo, 6 de julho de 2014

TESÃO QUE PICA



que bicho bonito
parece um homem dos pés a cabeça
quando anda manda vê uma beleza que dá gosto
quando olha alfineta almas
com a  mão direita aprumada em seu inferno

além da braguilha dessa espécie
existe a vara da nossa desorientação
eu não respondo por mim um passo após sua cueca
exato macho catalisador das minhas agonias
ando cheio de manhãs e duchas frias

quero me despir para você depois de completamente nu
e pode ser ali mesminho na escadaria do Banco do Brasil 
do jeito que sonhei alguém de frente a extinta Bemoreira Ducal
quem te mandou cruzar com o meu caminho completamente negro em bom tom
melhor pedaço de mau estrada, só quero te ter bem fundo e mais nada

Ponto de fuga






Num punhado, moldada em concha a minha mão
tive imagem tua,  envólucro feito  camafeu 
fiquei assim ao te ver sumir na linha do horizonte
quando fiquei ofegante na ponta dos pés para poder te ver mais

eu senti o seu aceno pleno de escassez de lágrimas
cristalizada foi a nossa dor para a anestesia do nosso infortúnio
eu também não quis chorar o esgotar do seu vulto
quando desci do alto meti a mão pelo bolso e libertei sua cara

agora estamos no nosso álbum das recordações
de preto e branco e colorido parco
o amor e a dor vai feito naftalina
nós fomos o sublime que agora sublima 
  


sábado, 5 de julho de 2014

O meu umbigo é o centro da história



Mas você vai viver a vida inteira sem dizer eu te amo para ninguém?
Perigo
Quem não ama é eternamente um grito sufocado
Bomba
lacuna sentimental, desprovimento de riqueza
Esplosão
Ao fel seu ódio trancafiado  em si mesmo
Carnificina
sua inveja dá de pau até em cachorro morto
Decomposição
seu caixão será seu fardo mais pesado
Apagão

Amor
Tem que ser dito em alto brado
Inteiro
Por você mesmo para se ter mais fundo
Transbordando
o sentimento acima da história
Recompondo
Pai, mãe, irmãos, romance, filhos, vizinhos
Silenciosamente
sua pele vai acordar de cara boa
Clarão
o corpo se faz leve se a alma flue


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Reminiscências

Acordo cedo
pulo dentro das chinelas
calçando o corpo para o dia

tenho no coração a cantiga antiga dos carroções
memórias, Jerônimo herói do sertão
as ondas do rádio
a estrada vermelha
a casa era cheia de histórias
a vida não ia muito além da família

Agora as minhas havaianas
parecem minha amalgama do tempo
meu toque nelas
produz a sinergia das velhas alvoradas
não solitárias as minhas sandálias
porque tem uns pardais e mais alguns pombos
também resistentes aos novos tempos
das parabólicas alienantes

já não são telhas quando vejo o teto
só sei dos pés, das alpercatas
tão breves nossas pisadas arrastadas

terça-feira, 1 de julho de 2014

Contradança





deixa eu te beijar no meio do salão
depois que a gente puder dançar nossa primeira música
vou sapecar de beijo sua boca
vou te beijar de homem pra homem 
pela vontade que todos sentem de se amar por ai

nesse baile eu quero ver rodopiar o nosso mundo
nossa introspecção entregue inteira à pista
como vibram os casais que espremem e se exprimem na dança
à moda dos antigos das  horas dançantes 
na pisada leve no doce dos romances