quando menina
Analice esqueceu o sorriso
na esquina da rua bocaiuva com Correia Machado
um viaduto, uma vontade de pular da vida
tanto infortúnio
no vai e vem de uma existência micharia
as faces muchas e os calcanhares rachados
ao sol, ao sol, toada da ida suada
Analice desconhecia das fragrâncias das
namoradeiras
e sua mente se poluía com o apito pedagógico das
fábricas
Donizeth não a quis por amor
e se procriaram por acaso
pura carne e aflições
serviçal que foi até que lhe caísse a ficha
que mulheres vão a luta
até que se assumisse o que de belo havia nela
juntou papelão, latinhas e se virou nos trinta
aprendeu manicure, pedicure, maquiagem e outras
fitas
fez supletivo primeiro e segundo grau
deixou de ser domestica, do lar e mais o
escambau
trocou Donizeth por um homem mais feio, mas
interessante
sentiu seus dias se tornando menos massantes
não teve mais crias
usou pilulas, preservativos até que fez a
ligação tubaria
hoje ela passa na esquina
mais mulher, menos triste, não mofina
plena no seu exemplo de sucesso nessa vida
e fica aérea absorta nos vais e vens das suas
lidas
ficou mulher fina, consume cultura
assistiu titanic e toda a série crepúsculo
ouve DVD, lê revista caras
e é proprietária de salão de beleza,
profissional liberal
e rompeu completamente com aquele passado mal
fadado
daquele tempo perdido
agora somente a lembrança auditiva
do fuzuê da meninada quando aquele bom moço
passava
nos trilhos da central do Brasil
ela era toda desengonçada
requebra que te dou um doce
era pra ele, para ela nada.
Analice agora é vedete
fez tratamento de dente
tem sorriso reluzente
já foi até chamada de tchutchuca, de cachorra
e mais uai, viajou pra Paraguai
semanalmente vai coma as amigas à quarta da
viola
toma drinks com engov pra se prevenir de ressaca
quem a viu, quem a vê
Analice deu a volta por cima
que seja também com você!
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